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Quando o Apertar Start Tinha Alma: os jogos mudaram, ou fomos nós?

Quando “apertar Start” significava emoção, não gráficos. Entre pixels e realismo, será que os jogos perderam a alma — ou fomos nós que mudamos a forma de jogar?
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Imagem: Divulgação
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Quem viveu a era dos 8 e 16 bits lembra bem: o som metálico do cartucho encaixando, o sopro de esperança para fazer o jogo funcionar, e aquela sensação única de começar uma aventura com apenas dois botões e muita imaginação. Hoje, em 2025, os jogos são hiperrealistas, expansivos e cheios de tecnologia. Mas, em meio a tantos gráficos impecáveis e mundos abertos infinitos, uma pergunta ainda ecoa entre jogadores de todas as idades: Os jogos de antigamente eram realmente melhores, ou é a nostalgia que fala mais alto?

O passado em 16 bits: a era da imaginação e da dificuldade

Nos anos 80 e 90, os jogos eram limitados — mas, paradoxalmente, essa limitação era a sua força.

  • Jogos como Super Mario Bros., The Legend of Zelda, Castlevania e Chrono Trigger marcaram gerações com simplicidade e genialidade.
  • A narrativa vinha em poucas linhas de texto, mas a emoção vinha da descoberta e da superação.
  • Não existiam checkpoints generosos nem tutoriais longos — aprender era morrer, tentar de novo e vencer na raça.

Era um tempo em que cada vitória parecia uma conquista pessoal. Não havia atualizações nem DLCs — o jogo era o que era, e isso bastava. Por outro lado, havia limitações reais:

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  • Dificuldade artificial, muitas vezes para aumentar o tempo de jogo.
  • Falta de acessibilidade.
  • Produções pequenas que dependiam da imaginação do jogador para preencher lacunas gráficas e narrativas.

Mas, para quem viveu, tudo isso criou uma conexão emocional única. Cada pixel tinha alma.

A era moderna: mundos vastos, mas repetitivos?

Avançando para o presente, os jogos de 2025 parecem quase milagres tecnológicos.
Cenários fotorealistas, dublagens cinematográficas, IA adaptativa e trilhas sonoras orquestradas transformaram o ato de jogar em uma experiência sensorial completa. Jogos como Cyberpunk 2077 (Edição Definitiva), Elden Ring, Baldur’s Gate 3, The Witcher 4 e Horizon: New Dawn mostram que a indústria atingiu níveis artísticos impensáveis há 30 anos.

Porém, essa evolução trouxe novos dilemas:

  • Muitos títulos parecem variações do mesmo modelo — mundo aberto, árvore de habilidades, crafting, loot, missões secundárias infinitas.
  • O foco em monetização (passe de batalha, microtransações, DLCs) enfraquece a pureza da experiência.
  • Grandes estúdios arriscam menos: preferem fórmulas seguras a ideias originais.

O resultado? Jogos lindos, mas que muitas vezes soam emocionalmente vazios. A tecnologia cresceu — mas a “alma do jogo”, aquela centelha de descoberta que movia os jogadores dos anos 90, parece diluída em gráficos 4K.

O peso da geração e da memória

A verdade é que não existe uma resposta única. Cada geração viveu seus jogos de forma diferente, e a relação emocional com eles vai muito além da técnica.

  • Quem jogava nos anos 90 se conectava com a dificuldade e a simplicidade.
  • Quem cresceu nos anos 2000 viveu a transição: gráficos melhores, mas ainda com alma de desafio (Resident Evil 4, Shadow of the Colossus, GTA San Andreas).
  • Quem joga hoje busca liberdade, imersão, narrativa e identidade. Os jogos são menos sobre pontuação e mais sobre expressão pessoal — criar, escolher, personalizar.

O que muda não é só o jogo, mas o jogador. A infância dá um brilho que nenhum shader moderno reproduz.

Pontos positivos e negativos de cada época

ÉpocaPontos PositivosPontos Negativos
Anos 80–90Criatividade pura; jogabilidade precisa; trilhas marcantes; dificuldade desafiadoraLimitações técnicas; pouca acessibilidade; narrativas simples
Anos 2000–2010Transição artística; diversidade de gêneros; início da imersão 3D e do onlineBugs, experimentações falhas; início das práticas comerciais agressivas
2015–2025Narrativas cinematográficas; realismo técnico; acessibilidade e inclusão; imersão totalFórmulas repetidas; foco em monetização; perda da surpresa e da simplicidade

Conclusão: o que falta não é pixel — é paixão

Os jogos de antigamente eram bons porque nasceram da limitação e da paixão de quem criava.
Os jogos de hoje são incríveis porque reúnem arte, tecnologia e alcance global. Mas, entre uma era e outra, algo se perdeu: o senso de descoberta inocente, a vontade de jogar “só mais uma fase” sem pensar em conquistas ou rankings.

Talvez o segredo não seja escolher entre o passado e o presente — mas resgatar o espírito dos jogos antigos dentro dos novos mundos. Menos loot, mais alma. Menos gráficos, mais coração. Porque no fim das contas, o que nos faz apertar “Start” não é o visual — é o sentimento.

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